Esta reflexão vem a propósito de algumas questões que, frequentemente, me são dirigidas: Para que serve a poesia? Qual o seu significado? Quem pode ser poeta?
Do ponto de vista prático, a poesia não serve para nada. Se é verdade que todos nascemos mais ou menos poetas (uns mais que outros), não é menos verdade que também se aprende a ser escritor-poeta. A poesia não é a descrição tosca de um mundo visto por uma alma em ruínas ou libidinosamente apaixonada e fora de prazo. Escrever poesia é criar um mundo diferente do nosso e, por isso, não se deveria escrever poesia sem saber o que é a poesia. Nenhum poeta é digno desse nome, se não possuir o conhecimento, o domínio perfeito da linguagem poética, uma porção de ética, e de humildade. Concomitantemente ao conhecimento e à inspiração, é preciso transpiração. Ter grandes emoções e grandes sentimentos não é suficiente para se ser poeta.
O poeta não é político nem propagandista. Não tem de andar a «piscar o olho» aos leitores ou à clientela, nem servir-se dos meios publicitários da comunicação social.
Os dias do poeta são feitos de azul a inventar. Prepara as aulas como escreve os seus poemas, com palavra cuidada. É, precisamente, de Miguel Torga (que eu invejo) que remeto e partilho com os leitores que, benevolamente, me acompanharam nesta divagação, o seguinte poema:
Dia Poético
Que lindo dia
De poesia
Se pôs!
A manhã baça,
O jornal carrancudo,
E, de repente, tudo
Cheio de luz e graça!
E que não há milagres!
Há, mas são destes, que não provam nada…
É uma pena
Que a nossa alma seja tão pequena.
Ou já esteja ocupada.