A notícia caiu-me assim, sem mais nem menos, na segunda-feira, 3 de Outubro, de 2011. Sob a epígrafe “Vidas suspensas à espera da morte” o corpo da notícia referia dois bebés abandonados no Porto e em Vila do Conde, na última semana. Precisarão de sorte e de que o sistema funcione na perfeição, para que tenham a possibilidade de um futuro normal.De imediato, ocorreu-me a ideia: o que leva uma pessoa a abandonar um bebé num local público? Julgo não ser possível estabelecer possíveis relações de causa-efeito. Contudo, é possível reconhecer o processo que leva determinadas pessoas a ter determinado comportamento. Normalmente, a pobreza (de espírito, diria eu) associada a famílias desestruturadas e a doenças mentais, a “imaturidade emocional” é a expressão mais usada. Acrescente-se ainda, a psicose de puerpério e uma depressão pós-parto, e temos o quadro mais ou menos completo. Abandonar uma criança é crime. Entregá-la numa instituição não é crime. Não se abandona um filho, salvaguardando as situações apontadas acima (situações de psicose de puerpério e uma depressão pós-parto grave) torna o agente inimputável. A notícia é omissa quanto ao facto de, até hoje, volvida uma semana, encontrar o(s) responsável (eis). Ocorreu-me as palavras de Ortega, quando diz: “O homem é o homem e a sua circunstância”, quer dizer, o homem é o homem na sua formação, na política, na ética, cultura e sociedade. É preciso saber quem abandonou os bebés, quem são os envolvidos. A sociedade precisa de uma resposta urgente, para que absurdos destes não se possam repetir.
Adão Vaicondeus